"[...]E por um momento haverá mais futuro do que jamais houve[...], mas houve a nossa harmonia, a eletricidade ligada no dia, em que brilharias por sobre a cidade" (Menino Deus, Caetano Veloso)

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

MADRUGADA


Dessa madrugada invisível
que só o corpo cansa, e mostra
faço do teclado uma concreta arma
o sublime encontro,
as veias do abstrato
- milhões de quimeras espalhadas em ordem
                                   não-alfabéticas –
e a vida que eu desejo, que lhe amo.

domingo, 24 de julho de 2011

#...ENTRONCAMENTOS... # Ronaldo da Paixão

Órum

Ir ao encontro do encontro:
Ele:
de quinta-feira em azul
estilizado.
Ela:
com o branco de sexta-feira
envolvente.

Ele e ela:
o encontro.
No tempo onde o vento
guarda o sol
sob as vestes deles.

Vento
entre ambos nus.
Ambos:
céu em desvestes,
aromas de pele.
Ele e Ela:
no lustre dos afagos,
sob filetes de estrelas,
atracados em ambos,
o firmamento.

Ronaldo da Paixão
Feira de Santana - BA (Jornal Fuxico, nº 20, NIT - UEFS, jul. 2011.)

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Visionário e o Apocalipse no Sertão (no fim dos dias)

As tropas no sertão, luzido
(vai faltar luz e o cheiro da terra)
Trago no peito as esperanças do sertão, florido
(descanso na rede onde a morte me espera)
Pai do céu abençoa esse menino
que com o canto das corda mata a sede,
rasga o peito e o coração sem demora,
Avisa a ele quando no sertão chegar a hora
de sumir o barro, de sumir o verde...
De sumir o gado, de sumir o pasto
de sumir a nêga deitada comigo na rede.


     

terça-feira, 21 de junho de 2011

DAYANA

Para minha amiga Dayana Karla

O seu choro não é tão distante,
mas não se esqueça:
compactuamos com a mesma vida
e as mesmas divertidas risadas
As estrelas de Chaco brilham nos mesmos céus
baianos,
arregaçando o ar com sua voz de mar.
Te vejo da mesma estrela...
E essa mesma lua que nos traz a ternura,
nos mantém próximos.

terça-feira, 14 de junho de 2011

PÍLULA DO RAIAR MATINAL


Enquanto o raiar desperta o seu último galo
desenho, com os dedos
(sob o enigma do facho-escuridão)
seu corpo fotografado.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

#...ENTRONCAMENTOS... # Cézar Ubaldo e Ronaldo da Paixão









COMO SE FOSSES LIVRO

Queria abrir-te
como se abre um livro
e folhear-te as páginas
das verdades
que nunca encontrei.

Queria ler-te
como se eu fosse o mágico do tempo
a desvendar os mistérios
da vida que se eterniza
quando falecemos.

Queria saber-te toda
como a nudez do universo
sem cores pré-estabelecidas,
sem abstenções,
mas cheio da liberdade
que embriaga 
como vários copos de rum...


CEZAR UBALDO



SAGITARIANAMENTE

Meu beijo é selvagem.
Deflagra o nú, o pleno, o ar, o livrar.
É fogo respirando o ar
               e                 
atiçando, ao combusto, os fôlegos.

Meu selvagem beijar
de língua úmida de relentos
é o contorno do alheio no controlar;
é o enlaço lascivo do centauro:
ânima e animália.

RONALDO DA PAIXÃO


terça-feira, 31 de maio de 2011

SÃO FRANCISCO DO CONDE

Para Jadielson e Janiel.

Lá, entre as ventanias distantes,
o mar, calmo e passivo
fulgura, tingindo, os seus negros olhos.

Sem pedir licença
a terra adentra o mar
insisto em ver navegante
no negro mangue
seus olhos negros, distantes

Sobre a ponte deste impávido mar
sinto o salino ar
sangrar-me o vento pelos poros
rasgando-me lá as feridas.

naquela ponte, o oceano distante
desenha tuas curvas, flutuantes:
a baía se abre, em ambos os lados caravelas
fulgurando nesses desejos
a belíssima sinopse das pernas.

QUATRO CANTIGAS PARA RODELAS

Pôr do Sol em Rodelas, por Junior Vieira.



I

Se veste o rio de mar
para mostrar a terra
que o mar é doce
na beira de Rodelas.



II

Se veste o rio de sol
para mostrar aos ventos
que as ondas não são tormentos
e momentos, apenas, do mar.



III

Se veste o rio de ilhas
para mostrar aos céus
que o rio é calmo, é doce,
mas corta a terra, ao meio, sem medo.



IV

Se veste o rio de mar
para mostrar as suas meninas
que as cores são delas,
os desejos, infinitos,
dessa oceânica – histórica – briga
entre o rio e (a) mar.

Poema dedicado ao Tuxá  Dorival e a Residência Indígena da UEFS

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Os mistérios das Deusas Loucas, I

Sentado, ainda esperando as raízes do sol brotar inexplicavelmente sobre o meu trópico, penso por quais razões todas essas criações bandidas me fizeram. Não aguento mais esses gritos, esses alardes que se propagam ao som do toque; esses gritos que zombam dos mortais desconhecedores da loucura; desses mistérios que se escondem num bolso; desses mistérios que se escondem por trás de um belo semblante. Me disponho a deitar, e começo a colorir minhas intrigas; e começo a almejar um futuro; e começo a fazer parte desta novela; e começo a vê-la, intrépida e fogosa; e começo a negá-la… Nego! Nego porque você faz parte de minha cria, das minhas utopias, das minhas excitações… Começo a negá-la e me aproximo da convicção de que não tê-la, e não querer desejá-la, se confundem no maior acaso transversal da certeza. Começo a perceber que tê-la é transpor a atitude do irrealismo, é ser fugaz, é cadenciar quando estiver contigo, mas ser feroz enquanto você permanecer distante. É ser bicho. É ser. Não, não é ser bicho com nenhum vício ou apresentar-lhe rotina: é ser sagaz na escolha da presa. Lógico, não sou qualquer bicho. É, é verdade! É ser bicho para fazer tocaia e te pegar no primeiro descuido; ter a audácia de rasgá-la, sem sangrá-la: rasgar seu interior e plantar um ser de mim! Semear… Semear.

Não sei por quais razões insisto em ouví-la, não sei. Enquanto, inexplicavelmente, teus corpos transitam entre milhares e milhares de versos; cantarolando palavras de amor: musicais. Cantarolando, palavras de amor: termomentais.