"[...]E por um momento haverá mais futuro do que jamais houve[...], mas houve a nossa harmonia, a eletricidade ligada no dia, em que brilharias por sobre a cidade" (Menino Deus, Caetano Veloso)

terça-feira, 31 de maio de 2011

SÃO FRANCISCO DO CONDE

Para Jadielson e Janiel.

Lá, entre as ventanias distantes,
o mar, calmo e passivo
fulgura, tingindo, os seus negros olhos.

Sem pedir licença
a terra adentra o mar
insisto em ver navegante
no negro mangue
seus olhos negros, distantes

Sobre a ponte deste impávido mar
sinto o salino ar
sangrar-me o vento pelos poros
rasgando-me lá as feridas.

naquela ponte, o oceano distante
desenha tuas curvas, flutuantes:
a baía se abre, em ambos os lados caravelas
fulgurando nesses desejos
a belíssima sinopse das pernas.

QUATRO CANTIGAS PARA RODELAS

Pôr do Sol em Rodelas, por Junior Vieira.



I

Se veste o rio de mar
para mostrar a terra
que o mar é doce
na beira de Rodelas.



II

Se veste o rio de sol
para mostrar aos ventos
que as ondas não são tormentos
e momentos, apenas, do mar.



III

Se veste o rio de ilhas
para mostrar aos céus
que o rio é calmo, é doce,
mas corta a terra, ao meio, sem medo.



IV

Se veste o rio de mar
para mostrar as suas meninas
que as cores são delas,
os desejos, infinitos,
dessa oceânica – histórica – briga
entre o rio e (a) mar.

Poema dedicado ao Tuxá  Dorival e a Residência Indígena da UEFS

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Os mistérios das Deusas Loucas, I

Sentado, ainda esperando as raízes do sol brotar inexplicavelmente sobre o meu trópico, penso por quais razões todas essas criações bandidas me fizeram. Não aguento mais esses gritos, esses alardes que se propagam ao som do toque; esses gritos que zombam dos mortais desconhecedores da loucura; desses mistérios que se escondem num bolso; desses mistérios que se escondem por trás de um belo semblante. Me disponho a deitar, e começo a colorir minhas intrigas; e começo a almejar um futuro; e começo a fazer parte desta novela; e começo a vê-la, intrépida e fogosa; e começo a negá-la… Nego! Nego porque você faz parte de minha cria, das minhas utopias, das minhas excitações… Começo a negá-la e me aproximo da convicção de que não tê-la, e não querer desejá-la, se confundem no maior acaso transversal da certeza. Começo a perceber que tê-la é transpor a atitude do irrealismo, é ser fugaz, é cadenciar quando estiver contigo, mas ser feroz enquanto você permanecer distante. É ser bicho. É ser. Não, não é ser bicho com nenhum vício ou apresentar-lhe rotina: é ser sagaz na escolha da presa. Lógico, não sou qualquer bicho. É, é verdade! É ser bicho para fazer tocaia e te pegar no primeiro descuido; ter a audácia de rasgá-la, sem sangrá-la: rasgar seu interior e plantar um ser de mim! Semear… Semear.

Não sei por quais razões insisto em ouví-la, não sei. Enquanto, inexplicavelmente, teus corpos transitam entre milhares e milhares de versos; cantarolando palavras de amor: musicais. Cantarolando, palavras de amor: termomentais.

TEMPO, TEMPO, TEMPO

 

Não tenho tempo, além

das provocações

A nossa geladeira anda vazia

Os nossos olhos perdidos no vazio

As nossas mãos soltas no mundo

 

Não tenho tempo.

 

Não tenho o casual, tempo

das provocações de cetim

ou sem cetim

A nossa geladeira anda tão vazia

Tenho vagas as lembranças de quando

nua dormias

Tenho um semblante opaco, nostálgico

 

Não tenho.

 

Não tenho a raiva daninha, das provocações

enquanto gozava, repetias

continua, continua, continua

eu te contendo, nua

esquecia: a nossa geladeira anda tão vazia

 

Esvaia o tempo.

 

As roupas espalhadas, provocadas

repetições

a vontade de mordê-la, comendo cada parte

e arrancá-la de uma vez por todas (novamente)

a calcinha

 

Confesso: seu corpo é tão belo quando está puro

Repetidas vezes, repetidas noites no escuro

 

Tempo, tempo, tempo.